A pandemia do Covid-19 e as medidas de distanciamento social causaram um impacto nas receitas de 18% dos varejistas que participaram da Pesquisa Mensal de Comércio, divulgada recentemente pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Além de devastar milhares de famílias com a perda de seus entes queridos, a crise também empurrou as organizações para uma situação ainda mais dramática do ponto de vista financeiro. Para piorar, desde março, já foram mais de 20 mil lojas fechadas só no Estado de São Paulo, segundo dados da Associação Comercial – SP.
No Brasil e no mundo, a vida como conhecíamos mudou drasticamente e os hábitos dos consumidores também. Itens supérfluos deram lugar a produtos considerados essenciais para essa nova realidade como álcool, sabonete, detergente e alimentos.
E os efeitos do surto da covid-19 colocaram uma pressão ainda maior nas receitas das empresas varejistas. Além do desafio de sobreviver à crise, agora as companhias do setor precisam lidar com outro problema: a abundância de estoques presos em toda a cadeia de suprimentos. A proporção de empresários que disse, em abril, estar com excesso de estoque, segundo a Fecomércio – SP, é de 27%.
Mas crises são feitas de oportunidades, não é mesmo? A boa notícia é que há uma combinação de fatores que ajudam os líderes a resolver o problema do excesso de estoque e livrar o supply chain da sobrecarga. Deve-se, então, seguir algumas recomendações para solucionar uma questão que não é simples: como reduzir o estoque da minha empresa?
1. Invista na economia colaborativa
Esse é o momento de fazer parcerias. As organizações podem trabalhar em conjunto com fornecedores para cancelar pedidos ou simplesmente postergar. Enquanto alguns varejistas estão sentados em seus pedidos, outros estão preocupados em fazer uma boa gestão do seu estoque e têm optado por investir na parceria com fornecedores para devolver mercadorias, especialmente estoque básico que pode ser reordenado e vendido posteriormente.
Nem todas as companhias que trabalham na cadeia de suprimentos adotam esse nível de parceria, uma vez que também foram afetadas pela crise, mas podem estar dispostas a negociar agendas de pagamento para preservar o relacionamento comercial.
2. Venda imediata
A melhor abordagem para evitar prejuízos com estoque encalhado é investir em uma política de promoções, descontos, frete grátis ou alguma oferta de produto que não fornecido recentemente. Adicionalmente, os varejistas podem promover as promoções por meio de aplicativos, mídias sociais, e-mails, ampliando a presença da marca no mundo digital.
A economia colaborativa também é uma opção para ajudar com as vendas imediatas. As redes do varejo físico podem compartilhar o inventário com empresas de e-commerce, que terão acesso a base de clientes e poderão liquidar a lista de itens em promoção de forma mais rápida. Essa abordagem também dará condições para as companhias trabalharem com o chamado “just in time”, ou seja, produção somente por demanda.
3. Descubra o poder da “entrega no mesmo dia”
Como o nome já denuncia, essa é a prática de entregar o produto no mesmo dia em que o produto foi adquirido pelo cliente. Essa é uma excelente estratégia para reduzir estoque e, também, para atender uma demanda de clientes, que não têm mais o contato com as lojas por conta do isolamento social.
Alcançar consumidores da maneira tradicional não cabe mais no atual cenário. Por esse motivo, muitos empresários começaram a oferecer o serviço de entrega no mesmo dia, provando que atendimento flexível sempre é uma boa abordagem para atender as demandas dos clientes, bem como gerar receitas e atingir o desejado “estoque zero”. Além disso, serve para as grandes e pequenas empresas.
4. Não desconsidere fazer doações
Crises também são acompanhadas de solidariedade. Um levantamento realizado pela Stone, fintech do segmento financeiro, procurou comparar as principais mudanças de hábitos de compra do brasileiro entre o período pré-quarentena, representado pelos meses de janeiro a março deste ano, e durante a quarentena, de maio a abril, além das mudanças nos itens mais consumidos, e descobriu que tivemos um crescimento de 192% nas doações on-line. Esses dados são maiores que os gastos com alimentação, que teve alta de 126%.
A pesquisa reforça que a pandemia potencializou uma situação que já era dramática. Neste momento, muitas famílias perderam parte ou toda renda por causa da crise e foram obrigadas a contar com ajuda de doações. Associado a este problema, hospitais que estão no limite de ocupação também estão precisando de doações de alimentos, além de itens de limpeza e higienização.
Uma empresa não sobrevive sem lucratividade. Ela que norteia o caminho a seguir, mas em tempos difíceis como esse, as marcas podem investir um pouco da sua energia em generosidade. Saiba que essa é uma das atitudes observadas pelos consumidores quando são perguntados “o que você valoriza em uma marca?”. Por fim, é possível trabalhar em colaboração, ser solidário e ainda transformar em realidade o desejo de zerar o estoque.
*Jose Luqué é Managing Director LATAM na Infor
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